Hoje é um dia muito especial para nós, cristãos. A Igreja anima seus fiéis a celebrar, com especial solenidade, o Corpo de Cristo
O Papa Urbano IV instituiu esta celebração em 11 de agosto de 1264, através da bula Transiturus de hoc Mundo, que difundiu a comemoração entre os fiéis do mundo inteiro. Quando era arquidiácono (vigário geral do bispo), ele conheceu a história de Santa Juliana de Cornillon, da diocese de Liège, na Bélgica, que teve uma visão profética a respeito da necessidade de instituição dessa Solenidade. Esta visão foi descrita pelo Papa Bento XVI, em 2010:
“A visão apresentava a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor levou-a a compreender o significado daquilo que lhe tinha aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz: ou seja, uma festa em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento”.
Desse modo, o Papa atendeu aos apelos divinos e instituiu a Solenidade, que tem uma data móvel porque é realizada sessenta dias após a Páscoa. No Brasil, há uma forte tradição de procissão com o Santíssimo Sacramento e a confecção pelos fiéis de tapetes de serragem coloridos, que adornam o trajeto do cortejo.
Sobre a importância desta Solenidade, o Papa Urbano IV escreveu: “Embora a Eucaristia seja celebrada solenemente todos os dias, na nossa opinião é justo que, pelo menos uma vez por ano, se lhe reserve mais honra e solene memória. Com efeito, as outras coisas que comemoramos, compreendemo-las com o espírito e com a mente, mas não por isso alcançamos a sua presença real. Ao contrário, nesta comemoração sacramental de Cristo, ainda que seja de outra forma, Jesus Cristo está presente no meio de nós na sua própria substância. Com efeito, quando estava prestes a subir ao Céu, Ele disse: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,20)”.
O Catecismo da Igreja Católica nos diz que “A Eucaristia é o coração e o cume da vida da Igreja, porque nela Cristo associa a sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de ação de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na cruz; por este sacrifício, Ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja” (CIC, §1407).
Portanto, esta Solenidade diz respeito à reverência, adoração, louvor e ação de graças que devemos prestar a Jesus Cristo Eucarístico, afinal, Ele realizou em Seu corpo a vontade de Deus e, com isso, nos trouxe a salvação, como nos diz o autor sagrado da Carta aos Hebreus:
“Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então, eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade. Disse primeiro: Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os sacrifícios nem as ofertas, nem os holocaustos, nem as vítimas pelo pecado (quer dizer, as imolações legais). Em seguida, ajuntou: Eis que venho para fazer a tua vontade. Assim, aboliu o antigo regime e estabeleceu uma nova economia. Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10,5-10).
Uma genuína Teologia do Corpo
O corpo humano, ou “carne”, como alguns místicos antigos costumam defini-lo, sofreu inúmeras más compreensões ao longo da história. O corpo já foi visto como algo a ser ignorado ou maltratado, pois era entendido como “inimigo” de uma vida santa. Há, inclusive, relatos antigos de cristãos que, embora bem-intencionados, submetiam seus corpos a rigorosas e, por vezes, mortais penitências e mortificações. A Igreja, assim, como sempre assistida e orientada pela graça de Deus, foi se dando conta da urgência de conduzir seus fiéis a um mergulho mais profundo no sentido teológico e espiritual da encarnação do Verbo de Deus, Jesus.
Entre os grandes nomes que mereceram destaque nesse empenho da Igreja, para uma compreensão mais integral da pessoa humana, sem dúvida, foi justamente, o grande Papa São João Paulo II. A Teologia do Corpo foi desenvolvida e aprofundada em nada mais, nada menos, do que 129 audiências. Essas foram realizadas já no início de seu pontificado.
Seus ensinamentos trouxeram luzes que culminaram numa compreensão racional e, ao mesmo tempo, profundamente espiritual, do que de fato significa ser pessoa. No fundo, o Santo Padre quis conscientizar os fiéis sobre a importância de uma relação integral com Deus. Relação essa que abrange todos os aspectos e áreas do ser: sexualidade, afetividade, razão, espiritualidade etc. Essa Solenidade de Corpus Christi, então, deve, entre outras coisas, também nos recordar que o Verbo de Deus, de fato, se fez carne (cf. Jo 1,14), assumiu, em Si, uma carne humana, a fim de redimi-la, pois tudo o que é tocado por Cristo, é por Ele redimido.
Peçamos ao Senhor a graça de sermos envolvidos pelo Seu Espírito Santo nesta magnífica Solenidade. Que acolhamos, com sinceridade de coração, as propostas que ela sugere, de uma relação integral com Ele, de corpo e alma. Se você conhece alguém que precisa ser iluminado por essas palavras, faça com elas cheguem até ele.
Fonte: Shalom