O Ressuscitado vive entre nós. Aleluia!
O Ressuscitado vive entre nós. Aleluia!
A celebração da Páscoa no Ano da Fé nos proporciona a oportunidade de uma reflexão sobre a questão central da nossa fé, que é a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, e sobre seu significado para nós e para o mundo.
Não é só de hoje que a afirmação da ressurreição de Jesus é posta em dúvida por muitas pessoas: ela foi contestada e posta em dúvida desde o início; os próprios apóstolos não quiseram crer nas aparições do Ressuscitado e Jesus teve muito trabalho para convencê-los de que era ele mesmo, e não algum fantasma, que estava diante deles, nem se tratava de uma alucinação. O final do Evangelho de São Marcos mostra de maneira patética como os apóstolos continuaram incrédulos e, por isso, foram repreendidos por Jesus. Mesmo assim, o Mestre os enviou como missionários ao mundo para serem testemunhas dele e de sua ressurreição.
Só isso já é um argumento muito forte em favor da verdade sobre a ressurreição de Jesus. As primeiras testemunhas desse evento inaudito não foram pessoas crédulas ou fanáticas, nem animadas pelo propósito de se colocarem de acordo para passar ao mundo uma farsa bem inventada… Eles foram duros para crer. Mas a verdade da ressurreição se impôs a eles de tal maneira que não a podiam negar. E assim, eles acabaram dando a vida pela afirmação dessa verdade. Diante das autoridades, que os mandavam parar de falar que Jesus estava vivo, eles diziam: “não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos! Nós somos testemunhas do que Deus realizou em favor de Jesus”. E seu testemunho é lúcido e sólido.
O núcleo central da verdade sobre a ressurreição de Jesus é afirmado de maneira lapidar no Credo. Após afirmar a sua morte e sepultura, “sob Pôncio Pilatos”, como um fato historicamente situado, a Igreja proclama: “ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras”. Esse testemunho aparece esparso em todo o Novo Testamento; portanto, fazia parte da pregação dos apóstolos e da Igreja desde as suas primeiras origens. Os Atos dos Apóstolos nos trazem testemunhos eloquentes sobre a ressurreição de Jesus, e São Paulo chega a dizer: “se Jesus Cristo não ressuscitou dos mortos, é vã a nossa fé”.
Proclamando a ressurreição de Jesus, nós afirmamos que Jesus Cristo, depois de ter sido matado e sepultado, não ficou entregue à morte, mas superou a morte e foi visto vivo, encontrando-se novamente com os seus apóstolos, mas também outras pessoas; falou com elas e confirmou os ensinamentos e as escolhas que fizera antes de sua morte. A afirmação leva sempre uma certeza: aquele que estivera morto, agora está vivo e se encontrou com os seus discípulos. A ressurreição é atribuída a uma especial intervenção de Deus em favor de Jesus: Deus estava com ele e o fez passar da morte para a vida. Jesus era um inocente e justo, por isso, Deus interveio em seu favor e mostrou que Jesus era fidedigno e não um enganador de multidões; Deus testemunhou, assim, ser verdade tudo o que Jesus ensinou e significou para os homens.
Mas isso ainda não é tudo: a ressurreição de Jesus é bem mais que um fato maravilhoso situado no passado e vai muito além de dizer que Jesus passou a viver novamente. O Ressuscitado não voltou à vida deste mundo, mas entrou na glória de Deus; sua santa humanidade passou a participar da glória da divindade, que antes estava oculta na sua vida terrena. Por isso, já na pregação de Pedro, afirma-se que Jesus assentou-se à direita de Deus e tornou o juiz dos vivos e dos mortos.
A Igreja também afirma, com os apóstolos, que o Ressuscitado continua presente e atuante com seus discípulos e com todos os que ouvem e acolhem sua Palavra; continua a ser o Mestre e Senhor da Igreja, a caminhar com ela, a orientar seus passos, a falar por meio dela e a confirmar a sua pregação. Tudo isso não aconteceu apenas na primeira geração dos discípulos, mas ao longo dos séculos, até o presente.
Jesus Cristo ressuscitado reúne em torno de si a Igreja, anima-a mediante os dons do seu Espírito, alimenta-a na Palavra e na Eucaristia, santifica-a com os sacramentos e a prática da vida cristã. O Ressuscitado está vivo na comunidade reunida em seu nome, na pessoa dos seus ministros, que o representam no serviço aos irmãos; está presente em cada pessoa, por ele assumida como irmão e irmã, especialmente naqueles que mais sofrem e com as quais ele se identifica. O Ressuscitado vive entre nós! Aleluia!
Cardeal Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo
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