O Papa através dos olhos dos Vaticanistas
ROMA, terça-feira, 24 de abril de 2012 (ZENIT.org) – De uma grande desconfiança inicial a um grande interesse. Bento XVI é um papa que melhorou a sua imagem. De uma figura mediática inicial que o apresentava como o panzer cardinal, um rottweiler da fé, à realidade de hoje: um intelectual gentil e humilde que aprendeu a mover-se entre as pessoas, uma figura paterna que se fez querer. Um reformador que nunca perdeu de vista o seu propósito: anunciar Cristo ao mundo e aproximar todos da Igreja. Um papa que lutou na linha de frente e sem esconder-se problemas imensos como o dos abusos sexuais, o que lhe valeu muitos inimigos.
Esta é a imagem que emerge a partir de entrevistas que ZENIT realizou com vários correspondentes e vaticanistas que seguem o pontificado de Bento XVI, até mesmo se alguns deles consideram que a dificuldade de comunicação persiste. Abaixo lhes apresentamos alguns dos testemunhos recolhidos por ZENIT.
Giovanna Chirri, Vaticanista da agência italiana ANSA.
"Este Papa é um teólogo que, embora tenha se tornado um reformador, nunca perdeu de vista a sua finalidade: anunciar Cristo ao mundo. Encontrou-se com um monte de problemas, basta pensar nos casos de pederastia e da reforma financeira. Interveio com decisão. Além do vazamento de notícias, que aqui interveio no que poderia ser feito. Em sua pregação nos últimos dias e na semana santa, parece-me claro que o principal objetivo foi difundir a fé e que o mundo seja capaz de anunciar a Cristo".
Frederic Mounier, enviado permanente do diário francês La Croix, em Roma.
"Encontrei aqui em Roma, uma realidade diversa sobre Bento do que é a sua imagem na França. Este papa não é o panzer cardinal, mas um intelectual humilde, muito atento a ouvir as pessoas, mas temo que a sua posição não seja devidamente ouvida hoje porque está fora das regras usuais da comunicação mediática. Porque ele fala em profundidade, porque é um intelectual.
Usa o tempo que for preciso para pensar, não se baseia nas emoções. Portanto, seu pensamento é muito interessante mas distante da capacidade das pessoas. Acho que esse seja o grande desafio do seu pontificado.
Juan Lara, da agência EFE.
"Pessoalmente, sempre tive mais ou menos a mesma percepção de Bento XVI, porque sempre segui o Vaticano, mas houve certamente uma mudança. Ou seja, no início do seu pontificado ele era visto como uma pessoa muito séria, ortodoxa, conservadora. Mas, com os fatos demonstrou que é uma pessoa amável com um pensamento social bastante avançado. Um evento significativo emergiu durante o seu pontificado: os casos de abuso sexual e a pederastia. O papa enfrentou o caso, até mesmo criando muitos inimigos, mas não se importou com a condição de fazer limpeza, e isso é significativo. Ele enfrentou o escândalo na linha de frente".
Patricia K. Thomas APTN. Associate Press Television News.
Como jornalista vejo-o muito de perto, e acho que mudou desde o início do pontificado, porque é um homem humilde e disposto a escutar. Se me perguntam como o vêm nos EUA, nestes dias, com o caso do grupo de freiras americanas, houve uma raiva que se sentiu pela Internet contra Ele e contra o Vaticano. Quem não frequenta a Missa pensa que ele queira levar a Igreja para trás, que escute mais aos lefebvristas que as freiras americanas. Quando foi para os EUA, ao contrário, a sua imagem tinha subido, falou contra a pederastia, etc. Mas agora está crescendo um pouco a hostilidade”.
Salvatore Izzo, o Vaticano a agência italiana AGI.
"Bento XVI está adquirindo uma figura paterna que antes não tinha. É como quando uma pessoa não tem filhos e mora em um condomínio: todos os barulhos a incomodam. Depois, com o tempo, chegam os filhos e as coisas mudam. Ele está fazendo um grande esforço para aproximar todos da Igreja, não somente os tradicionalistas, mas também outros movimentos mais inovadores. Poderia não parecer assim, mas é isso ".
Maarten van Aalderen correspondente jornal holandês De Telegraaf.
"A percepção que as pessoas tinham de Bento XVI no início do seu pontificado não mudou para nada. Do pondo de vista mediático era um papa professor, esta era a idéia e esta permaneceu. Um Papa que ainda encontra dificuldade para comunicar com as pessoas. Não resolveu ainda este problema”.
Elisabetta Piqué, correspondente em Itália do jornal argentino La Nacion.
"Bento XVI sem ter o carisma de João Paulo II, conseguiu soltar-se um pouco em público, antes não se atrevia a tocar ninguém, agora abraça os bebês e os acaricia. Acredito que ele tenha aprendido a lidar com as massas. Ele aprendeu a fazer-se querer em qualquer lugar que vá, por exemplo, penso na sua última viagem a Cuba, onde ninguém entra numa igreja, foi muito admirado ali, sem falar no México. Quando ele subiu ao papado havia esta imagem da mídia de um rottweiler, de um inquisidor. Cada vez que houve erros de comunicação ele o reconheceu e demonstrou ser um Papa com uma personalidade muito amável, um intelectual, mas muito humilde.
Andres Beltramo, do Vaticano, em Itália, a agência Notimex mexicana.
"Mudou a percepção que as pessoas tinham sobre ele, e as suas viagens a vários países aceleraram isso. Na última viagem ao México, por exemplo, no início as pessoas não o conheciam, especialmente porque – por assim dizer – ficava sob a sombra de João Paulo II e tinha um grande interrogante sobre a sua pessoa. No entanto, quando o conheceram pessoalmente houve uma mudança de atitude. Aqui os meios falaram sobre ele, às vezes o criticam ou refletem sobre o entusiasmo popular, mas é um fato temporal que passa. Ele entra quando as pessoas o puderam ver e, portanto, ficam com uma percepção diversa do que contam os meios”.
Alessandro Speciale, correspondente vaticano de UCA News, Religion News e Vatican Insider.
"Bento XVI encontrou-se diante de um desafio, uma crise, não com certeza, sobre a qual ele tinha imaginado construir o seu pontificado. Falo da pederastia e dos abusos sexuais. E ele, ante essa crise, soube dar a resposta à altura das circunstâncias, o que talvez muitos homens dentro da Igreja não teriam sabido dar, mas teriam dado uma resposta instintiva: “o mundo ataca a Igreja”. Em vez disso, este Papa percebeu que era um mal que estava dentro e por tanto devia ser removido. Isso marcou o seu pontificado. Um desafio que ele não esperava mas, ao qual, respondeu estando à altura das circunstâncias".