A solenidade de todos os santos está envolta em mensagens sumamente consoladoras e formativas. Leva os fiéis a penetrarem na grandiosidade do mistério da comunhão entre os que já se acham na glória eterna e aqueles que ainda são viandantes neste mundo rumo à Jerusalém celeste. A ventura em toda sua plenitude que Deus reserva para os que observaram os mandamentos e o louvaram nesta terra traz ânimo, coragem para que se possa entrar pela porta estreita da eternidade feliz. O contemplar os que já desfrutam da perene dita do céu e, entre eles parentes e amigos, é um incentivo à perseverança na prática das virtudes e na vivência das oito bem-aventuranças. Cumpre ser santo neste mundo para ser bem-aventurado na Casa do Pai. Ser santo é ser salvo. Aqui na terra são incontáveis os cristãos verdadeiramente santos e que, um dia, fruirão delícias infindáveis. São os leais a Cristo e a tudo que Ele ensinou; são os heróis da caridade que consolam os pobres em suas enfermidades e em suas misérias, levando-lhes esperança e auxílios oportunos; são os pais e mães de família, que, no lar doméstico, vivem as grandezas do sacramento do matrimônio e educam sabiamente os filhos; são os jovens que se conservam ilibados num mundo de tanta poluição moral e que se preparam para ser ótimos profissionais; são os filhos obedientes a seus pais e bons mestres; são os cidadãos prestantes; enfim são todos aqueles que amam a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmos. Há, de fato, felizmente, muitos santos neste planeta terra e quantas vezes, ao morrer alguém, se diz comumente: era um santo, era uma santa, está no céu! Quando se contempla a nossa sociedade invadida e ameaçada por tudo o que corrompe e degrada, se conservar ainda cristã; quando os inimigos do nome de Deus lançam mãos de todos os recursos lícitos e ilícitos, para propagarem as suas idéias ímpias e funestas, sem, contudo, conseguirem destruir a fé em Cristo e na sua Igreja é também porque, lá em cima, há almas que junto de Deus que não cessam de interceder pelos que ainda labutam neste exílio terreno. Essas almas dos bem-aventurados formam um batalhão sagrado, celeste, que intercede pelos que pelejam neste mundo contra satanás e todas as suas invectivas. Elas se grupam em redor do Altíssimo, e as suas orações são como escudos colocados sobre as nossas cabeças, para que os dardos infernais não firam aqueles que querem perseverar na fé, na ida segura para junto deles que já conquistaram a coroa dos justos. Cumpre ter a convicção de que com a graça divina e a ajuda de poderosos intercessores lá no céu se pode ser santo, apesar de todas as dificuldades e obstáculos, tentações e turbulências cotidianas. Os que já se acham na alegria eterna foram vencedores pela graça de Deus, mas tiveram, todos eles, que triunfar sobre o mal, numa luta sem tréguas. Não foram criaturas excepcionais, mas fizeram de maneira extraordinária as ações ordinárias da vida e suportaram com paciência os sofrimentos enviados pela providência divina, jamais se revoltando contra o Ser Supremo. Dentre os santos de nossa devoção fulge a figura da Rainha de todos os Santos, Maria Santíssima, ela justamente invocada como a Senhora das Dores, dado que tanto também padeceu, mas sempre conformada aos planos salvíficos numa adesão incondicional à vontade divina. Ela esta a lembrar a cada cristão, seja ele uma criança, um jovem, um operário, um camponês, um sábio ou um iletrado, um rico ou um pobre, que todos purificados pela graça devem se transfigurar, se santificar seja em qualquer situação, em toda circunstância, em toda parte. É preciso que cada um se examine sobre o que procura realmente em tudo que faz, o que, de fato, deseja, pois tudo passa neste mundo e o fim de todas as ambições, de todos os atos, de todos os esforços devem convergir para a grande meta que é penetrar um dia nos palácios do grande Rei. A verdadeira felicidade só se encontra em Deus e o Verbo Eterno do Pai se fez homem exatamente para a salvação da humanidade, Ele “o caminho, a verdade e a vida”. Apesar de ser árdua a marcha por este vale de lágrimas, o Todo-poderoso é gêneroso e semeia ao longo da existência de cada um tudo que é preciso para que chegue à ventura sem fim e sem ocaso. Aí estão os sacramentos, as inspirações divinas de cada momento, os exemplos dos bons. Basta correspondência a tantos favores celestes e repetir com um grande santo: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”. É necessária a cooperação pessoal e o lembrete de Santo Agostinho é sempre válido: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti”. Dirijamos para o céu todos os desejos, todos os passos para se obter a conquista do reino divino. Deus lá nos espera para uma eternidade feliz, bem como os santos de nossa devoção, nossos parentes e amigos. Vale a pena ser santo!
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.