Deus e eu
Deus e eu
O caminho da santidade, da volta para Deus, consiste em recolocar DEUS no seu lugar, devolver-lhe o Trono que lhe pertence e em nosso coração!
Em nosso coração há um Trono onde está sentado o nosso EU, naturalmente egoísta, déspota, egocêntrico e ególatra. O pecado original expulsou DEUS deste Trono, que Deus colocou em nossa alma para ali viver e reinar, e ali entronizou o nosso EGO no Seu lugar.
O Papa São João Paulo II disse um dia que “o pecado original tirou os nossos olhos do Criador e os voltou para as criaturas”. Nelas passamos a buscar a felicidade que deveria ser buscada em Deus. Consequência disso é que nos afastamos Daquele que é TUDO, e experimentamos a miséria do NADA.comofazeravontadededeus
Uma grande verdade que a Sagrada Escritura nos revela é esta: “pertencemos a Deus”: “Não sabeis que já não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por um grande preço” (1 Cor 6,19). O Salmista exclama no Invitatório: “Nós somos o povo de que ele é o pastor” (Sl 94,7b), por isso: “Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou” (Sl 94,6).
Se Ele nos criou como a mais excelsa expressão da Sua glória e do Seu amor, somos seus: nossa vida Lhe pertence e somente n’Ele saciaremos a sede infinita que existe no coração de cada um de nós. Falando aos gregos em Atenas, São Paulo explicou: “É nele que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28a).
Após o pecado de Adão e Eva, a humanidade se afastou de Deus, a morte e a dor entraram em nossa história; mas Deus não nos abandonou ao poder da morte, Cristo nos conquistou novamente para Ele, com o preço da Sua vida. São João nos ensinou que Ele “veio para o que era seu” (Jo 1,11a) e que “tudo foi feito por ele” (Jo 1,3a). “Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (2 Cor 5,15).
Pertencemos a Deus duplamente: primeiro porque fomos criados por Ele; segundo, porque nos fez renascer por Jesus Cristo, que nos “comprou” com o preço da Sua vida. São Pedro, na sua primeira carta, falou disso com clareza: “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados (…) mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum” (1 Pd 1,18a-b.19ª).
Portanto, o caminho da santidade, da volta para Deus, consiste em recolocar DEUS no seu lugar, devolver-lhe o Trono que lhe pertence e em nosso coração, porque Ele é nosso criador. Sem isso nossa vida funciona como uma roda excêntrica, isto é, com o eixo fora do seu centro. Deus deve ser o Centro de nossa vida, nosso sentir, nosso pensar, nossos desejos e nosso agir.
Temos que trocar o EU por D-EU-S no trono de nossa alma; não matando o EU, mas fazendo-o ser todo penetrado por DEUS e todo submisso a Ele. No entanto, esta é uma obra tão grande e difícil, que só o mesmo DEUS pode realizá-la em nós. A nós cabe permitir que isso aconteça e cooperar com DEUS. Por isso Ele veio em nosso socorro no Natal; assumiu a nossa natureza sem deixar a Sua, fez-se pobre para nos enriquecer, armou a Sua Tenda entre nós. Teve compaixão de nossa miséria. Reza a Igreja: “Vós, que, sem deixar de ser Deus, quisestes vos tornar homem como nós, fazei que nossa vida alcance sua plenitude na participação da vossa divindade. Pelo Vosso nascimento, Senhor, livrai-nos do mal!”
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Sem a consciência clara desta realidade sobrenatural, a vida do cristão não pode desabrochar plenamente. Quando temos a convicção de que pertencemos ao Senhor, nossa vida muda. Nossa vontade será trocada pela vontade de Deus, a quem pertencemos. Por isso, dizemos que Ele é o Nosso Senhor, isto é, o nosso Proprietário. O sopro de vida que há em nós Lhe pertence, e Ele pode retirá-lo de nós quando quiser. O Autor da vida afirmou: “Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?” (Mt 6,27). “Portanto, eis que vos digo: Não vos preocupeis por vossa vida” (Mt 6,25a).
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Já que somos propriedade sagrada de Deus, não podemos viver de qualquer jeito, desperdiçando a vida, o tempo e os talentos. Precisamos viver para fazer a vontade de Deus. A Virgem Maria foi a criatura que melhor viveu na terra essa realidade. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38a). E então o Verbo se fez carne! Santo Agostinho disse que “antes da Virgem Maria conceber Jesus no Seu ventre, o concebeu na Sua alma”.
A “Gaudium et spes”, nos ensina que o homem “é a única criatura no mundo visível que o Criador quis por si mesma” e que ele não pode encontrar-se plenamente a não ser na doação sincera de si mesmo.
Pertencer a Deus é viver para os outros; é servir. Sem essa preciosa autodoação, a vida se esvazia e perde o sentido. Mas isso só acontecerá se devolvermos o Trono do coração a Quem tem direito dele. E isso se fará com uma luta diária contra o nosso egoísmo, pois ele não morre, apenas adormece enquanto Deus reina em nossa alma. Jesus deixou claro isso, “Vigiai e orai, pois o espírito é forte mas a carne é fraca”. Não nos iludamos e não descuidemos de nos proteger, pois a nossa natureza foi enfraquecida pelo pecado original, e nossa luta contra as trevas do pecado, que afastam Deus do Trono de nossa alma, nunca cessa.paraestarmenor
Mas esta é um luta bonita, cheia de glória, embora, como disse Jesus, signifique “fazer violência contra nós mesmos”. Mas não violência contra o que é bom em nós, mas violência contra o mal que nos afasta de Deus e nos rouba a verdadeira felicidade. Para isso temos as armas da fé: a Confissão e a Eucaristia, a oração contínua, a adoração ao Senhor no Sacrário, a meditação da Palavra de Deus e de bons livros, a reza do Terço e a devoção permanente aos Anjos e Santos, que na presença de Deus acompanham a nossa luta, e “intercedem por nós sem cessar”, como diz uma das Orações Eucarísticas da Missa. Não podemos esquecer o que disse o divino Mestre e único Salvador (At 4,12), “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Santo Agostinho nos ensina que a nossa tristeza são os nossos pecados; e que a nossa felicidade está na santidade. E esta significa deixar Deus reinar no Trono do coração.
Prof. Felipe Aquino
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